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O que são células-tronco?As
células-tronco são células muito especiais. Elas surgem no ser humano,
ainda na fase embrionária, previamente ao nascimento. Após o nascimento,
alguns órgãos ainda mantêm dentro de si uma pequena porção de
células-tronco, que são responsáveis pela renovação constante desse
órgão específico. Essas células têm duas características distintas:
1- elas conseguem se reproduzir, duplicando-se, gerando duas células com iguais características;
2¿ conseguem diferenciar-se, ou seja, transformar-se em diversas outras células de seus respectivos tecidos e órgãos.
Um exemplo é a
célula-tronco hematopoética, que no adulto se localiza na medula óssea
vermelha. Na medula óssea, ela é responsável pela geração de todo o
sangue.
Essa é a célula que efetivamente substituímos quando realizamos um transplante de medula óssea.
Onde podemos encontrar as células-tronco?Além
da célula-tronco hematopoética, pesquisas recentes têm demonstrado a
presença de células-tronco específicas, presentes em tecidos como,
fígado, tecido adiposo, sistema nervoso central, pele etc. A utilização
para fins terapêuticos dessas células também tem sido alvo de vários
estudos.
O sangue do cordão umbilical e placentário é utilizado para que tipo de tratamento?Durante a gravidez, o oxigênio e nutrientes essenciais passam do sangue materno para o bebê por meio da
placenta e do cordão umbilical. O sangue que circula no cordão
umbilical é o mesmo do recém-nascido. Quando pesquisadores identificaram
no cordão umbilical um grande número de células-tronco hematopoéticas,
que são células fundamentais no transplante de medula óssea, este sangue
adquiriu importância, pela doação voluntária, para pessoas que
necessitem do transplante.
O sangue do cordão umbilical é utilizado para que tipo de tratamento?O
sangue do cordão é uma das fontes de células-tronco para o transplante
de medula óssea e este é o único uso deste material atualmente. O
transplante é indicado para pacientes com leucemias, linfomas, anemias
graves, anemias congênitas, hemoglobinopatias, imunodeficiências
congênitas, mieloma múltiplo, além de outras doenças do sistema
sanguíneo e imune (cerca de 70 indicações).
As células-tronco podem ser utilizadas em tratamento de outras doenças?Sim,
mas a fonte utilizada atualmente para indicações diferentes do
transplante de medula óssea, como a medicina regenerativa de
determinados órgãos, são as células-tronco da medula óssea do próprio
indivíduo.
O tecido do próprio cordão também possui células-tronco?Esta
é mais uma especulação desta área. Há conhecimento de que existem
células-tronco em vários tecidos do organismo há pelo menos 10 anos. Sua
obtenção, entretanto, é difícil, cara e ainda sem utilidade prática. No
campo da ciência é prudente aguardar que os resultados deixem o campo
da experimentação e sejam aplicados na prática médica. Não existem ainda
logística, recursos e indicação para que as células do próprio cordão
sejam utilizadas em curto e médio prazo. Trata-se de antecipação de
estudos ainda sem resultados práticos, o que em geral causa muita
ansiedade e expectativa nos que aguardam perspectivas de cura para
doenças graves.
As células-tronco do SCUP são células-tronco embrionárias?Não, as células-tronco do SCUP têm características adultas, porém são mais imaturas e ainda pouco estimuladas.
O que é Brasilcord? É
uma rede que reúne os Bancos Públicos de Sangue de Cordão Umbilical.
Hoje, estão em funcionamento as unidades do INCA no Rio de Janeiro, do
Hospital Albert Einstein, do Hospital Sírio Libanês e dos hemocentros da
Unicamp e de Ribeirão Preto, todos no estado de São Paulo. No restante
do Brasil estão funcionando as unidades de Brasília, Florianópolis,
Fortaleza e Belém. A instalação de bancos em todas as regiões do país é
imporante para contemplar a diversidade genética da população
brasileira. O INCA é responsável pela coordenação da Rede. A Portaria Ministerial nº 903/GM de 16/08/2000 e o RDC da Anvisa 153 de 14/06/2004 regulamentam os procedimentos da Rede. A criação da Rede Brasilcord foi regulamentada pela Portaria Ministerial nº 2381 de 28/10/2004.
Como é feita a doação do sangue do cordão para um Banco Público?A
doação é realizada em maternidades credenciadas do programa da Rede
BrasilCord, que reúne os bancos públicos de sangue de cordão. Existem
alguns controles no momento da coleta do sangue do cordão, necessários
para um bom aproveitamento das unidades. Portanto, não se trata de uma
doação universal como ocorre com sangue e que pode ser feita em qualquer
hospital ou por qualquer pessoa, sendo limitada aos hospitais que fazem
parte do programa.
Como é feita a coleta de SCUP?Após
o nascimento, o cordão umbilical é pinçado (lacrado com uma pinça) e
separado do bebê, cortando a ligação entre o bebê e a placenta.
A quantidade de sangue (cerca de 70 - 100 ml) que permanece no cordão e na placenta é drenada para uma bolsa de coleta.
Em seguida, já no laboratório de processamento, as células-tronco são separadas e preparadas para o congelamento.
Estas
células podem permanecer armazenadas (congeladas) por vários anos no
Banco de Sangue de Cordão Umbilical e disponíveis para serem
transplantadas. Cabe ressaltar que a doação voluntária é confidencial e
nenhuma troca de informação será permitida entre o doador e o receptor.
Quanto tempo o sangue do cordão pode ficar congelado?O tempo é indefinido, existem bolsas de sangue de cordão congeladas há mais de 20 anos.
Qualquer gestante está apta a doar? Não,
a gestante tem que atende a critérios específicos. Dentre eles, deve
ter mais de 18 anos, ter feito no mínimo duas consultas de pré-natal
documentadas, estar com idade gestacional acima de 35 semanas no momento
da coleta e não possuir, no histórico médico, doenças neoplásicas
(câncer) e/ou hematológicdas (anemias hereditárias, por exemplo).
Por que as doações não podem ser feitas em qualquer hospital?O
programa de doação trabalha com planejamento e eficiência. Não adianta
quantidade sem qualidade porque seria desperdício coletar sem que o
procedimento tenha sido realizado por equipe treinada ou com critério. O
planejamento segue as normas internacionais. Há pelo menos dois
hospitais conveniados para cada Banco da Rede BrasilCord. São hospitais
públicos ou com credenciamento específico para coleta.
Quais são as vantagens do SCUP?A
principal vantagem é que as células do cordão estão imediatamente
disponíveis. Não há necessidade de localizar o doador e submetê-lo à
retirada da medula óssea. Além disso, não é necessária a compatibilidade
total entre o sangue do cordão e o paciente. Com o uso do cordão
umbilical é permitido algum nível de não compatibilidade, ao contrário
do transplante com doador de medula óssea, que exige compatibilidade
total.
Existem desvantagens?Existem
sim, mas não para a doadora. A maior desvantagem é a dose de
utilização, uma vez que a doação ocorre em uma única coleta (sem
possibilidade de nova coleta), e o volume é restrito, o número de
células-tronco pode ser limitado. Assim, existe um limite de peso para o
paciente, em função da quantidade de células-tronco retiradas do sangue
do cordão. Os pacientes precisam ter entre 50kg e 60kg. No entanto,
hoje se utiliza uma técnica de adicionar dois cordões para um mesmo
paciente, o que proporciona o uso em adultos com maior peso.
Onde o INCA está recolhendo os cordões?O
material é coletado atualmente no município do Rio em três
maternidades: Maternidade Municipal Carmela Dutra, Hospital Naval
Marcílio Dias e na Pró Matre. Nas maternidades, o INCA possui uma equipe
de enfermeiras devidamente especializadas e capacitadas para a triagem e
coleta de SCUP, de segunda a sexta-feira, de 7h às 19h.
Existe algum risco para a mãe ou para o bebê? Não,
não existe nenhum risco. Lembre-se que tanto a placenta, quanto o
sangue que fica armazenado nela, têm sido tratados, até então, como
lixo. Obviamente, as equipes de coleta atuam somente com o consentimento
do obstetra, garantindo que nada interfira no parto.
O que acontece após a doação?As
unidades coletadas recebem um identificador numérico que passa a ser a
identidade da bolsa. Toda referência à ela passa a ser realizada com
esse número, e não mais com o nome da gestante. A unidade é então levada
ao laboratório, no INCA, onde passará por diversas etapas.
Inicialmente
é avaliado o número de células presentes na unidade. Caso o número
destas seja suficiente para um transplante, a mesma é processada, tendo
seu volume reduzido a 20ml e congelada (criopreservada). Assim, a
unidade fica aguardando os resultados dos exames realizados, inclusive
exames maternos, que avaliarão a presença de marcadores para doenças
infecto-contagiosas do sangue.
Então, o SCUP coletado e congelado já está pronto para transplante?
Não,
a legislação vigente prevê que, para uma unidade ser liberada para
transplante, se deve repetir os exames sorológicos da mãe, em um período
de dois a seis meses, após o parto. Isso é muito importante, pois sem
esse novo exame todo o trabalho terá sido em vão, e a unidade não poderá
ser utilizada.
Quanto tempo depois da doação, então, a unidade fica disponível para transplante?Somente
de 3 a 6 meses depois do parto as unidades são liberadas para uso.
Durante este tempo, são realizados testes no sangue do cordão para
excluir doenças infecciosas e genéticas. Este é um procedimento de
segurança, para evitar as janelas imunológicas das doenças infecciosas.
Como hoje existem testes mais precisos, principalmente para HIV e
hepatite, será proposta à Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) a alteração desta norma, para que as unidades com estes testes
negativos sejam liberadas mais rapidamente, sem obrigatoriedade dos
testes de seguimento da mãe. Desta forma, haverá um crescimento mais
rápido e eficiente do número de unidades disponíveis para uso, nos
moldes do que acontece na maioria dos países que possuem Bancos de
Sangue de Cordão públicos. O aproveitamento final, depois de exclusão
por critérios de segurança e qualidade (contagem mínima das células e
volume), é de cerca de 40% das unidades coletadas.
Caso o filho(a) da gestante que doou seu SCUP necessitar de um transplante de células-tronco, ele(a) terá prioridade?Não.
Entenda que a doação, por todos os fatores que mencionamos, não
significa que o material foi crioprerservado, pois terá que atender
critérios de qualidade estipulados pela lei. Uma vez que o SCUP esteja
criopreservado e disponível para uso, caso não tenha sido utilizado por
outro paciente, o mesmo será selecionado para o doador.
Quantas coletas são feitas em cada maternidade por dia?São coletados, em média, de três a cinco cordões em cada maternidade, por dia. Quanto custa este procedimento?A
doação é gratuita. Nenhuma gestante que adere ao programa de doação dos
Bancos Públicos tem qualquer custo. A coleta e o armazenamento de cada
unidade custam em torno de R$ 3 mil para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Já a importação de unidades de sangue de cordão umbilical, vindas de
registros internacionais, fica em torno de R$ 50 mil. Qual a capacidade do Banco?O
Banco do INCA possui dois tanques com capacidade para estocar cerca de
10.000 mil unidades. Neste espaço estão armazenados, até o momento,
4.000 bolsas.
Quantas unidades de sangue de cordão estocadas em Bancos Públicos brasileiros já foram utilizadas em transplantes?Das
cerca de 8.000 bolsas que estão armazenadas nas unidades em
funcionamento da Rede BrasilCord, mais de 70 foram utilizadas para
transplantes.
Como os pacientes receberão estas células?O
processo de transplante é semelhante ao utilizado com doador de medula
óssea, ou seja, após um regime de preparação com quimioterapia e/ou
radioterapia, o paciente recebe as células-tronco em um procedimento
semelhante a uma transfusão.
Os pacientes com indicações para
transplante não-aparentado deverão ser cadastrados pelo Registro
Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME). O médico insere no
sistema características da doença, dados cadastrais do paciente e o
resultado do teste de HLA, um teste genético. Depois, é feito um
cruzamento de informações entre o REREME e o Registro de Doadores de
Medula Óssea (REDOME), que inclui os dados das unidades armazenadas em
bancos da Rede BrasilCord e dos doadores voluntários, a fim de
identificar um doador ou unidade de cordão compatível.Existem bancos semelhantes no exterior?Sim. No exterior, existem mais de cem bancos, com mais de 180 mil unidades de cordão congeladas.
Ainda
é muito difícil encontrar doador compatível para os pacientes
brasileiros, mesmo com o aumento das unidades de sangue de cordão em
Bancos Públicos?Está
cada vez mais fácil encontrar um doador porque os Bancos Públicos de
Sangue de Cordão e os Registros de Doadores Voluntários estão se
multiplicando em todo o mundo. Hoje, encontramos doadores para cerca de
70% dos pacientes, 50% no Brasil e mais 20% no exterior.
Quais as principais diferenças entre os bancos públicos e privados?São
serviços diferentes. O banco público disponibiliza as unidades
imediatamente para quaisquer pacientes brasileiros que precisem de
transplante de medula óssea e não tenham um doador familiar. A coleta é
realizada com controles de qualidade e segurança e as unidades são
utilizadas para indicações precisas, sem ônus para o paciente que irá se
beneficiar. É a única modalidade recomendada pelos organismos
internacionais e por publicações científicas. O banco privado tem
legislação específica, de cunho comercial, com ônus para as famílias que
desejam armazenar o sangue. Além disso, as indicações e aproveitamento
do material são duvidosos, já que não existem publicações extensas sobre
os resultados obtidos com uso de cordões armazenados em bancos
privados. Armazenar o sangue do cordão em um banco privado é uma aposta
num futuro que a ciência ainda não comprovou.
Qual o posicionamento do Ministério da Saúde com relação aos bancos privados?O
Ministério da Saúde e a coordenação da Rede Brasilcord são contrários a
esta atividade, principalmente pela falta de utilidade pública e pela
forma enganosa como tem sido feita a propaganda dos bancos privados. Os
órgãos internacionais recomendam que não deve ser feito investimento
público em bancos privados.